Quando nos encontramos com amigos e familiares e
passamos a relembrar as histórias da infância, impossível o momento não
terminar em muita risada. Furtar algo da geladeira, inventar uma mentirinha aos
pais, subir em um local proibido. Travessuras que na época eram terríveis em
nossa cabeça infantil. Hoje, ao vermos desvios em verbas públicas, assédios,
mortes violentas, percebemos que as histórias que ficaram para trás são a marca
da inocência, deixando muita saudade e sorrisos. O livro de Dirceu Luiz
Alberti, professor universitário, traz passagens cômicas e empolgantes da
infância, em que tu fica pensando: qual desfecho isso terá?
O Tecendo a Vida em Contos e Crônicas, lançado em
novembro na Feira do Livro de Santiago, estava na minha fila (fila de leitura e
de comida são boas). Li ele ontem e asseguro a leveza e simplicidade da obra,
fugindo de linguagem técnica ou rebuscada. É como se estivéssemos numa roda de
conversa num domingo, tomando uma caipirinha, fazendo aquele churrasquinho e
ouvindo boas histórias.
As passagens engraçadas da infância denotam uma
harmonia familiar e uma afetividade intensa. Mostra como era possível
trabalhar, ter disciplina e brincar. A parte do seminário me emocionou, pois,
apesar do rigor e exigências, sei que é uma fase de muita amizade e
direcionamento profissional e pessoal. As histórias enquanto professor da URI
(onde também trabalhei por seis anos) demonstram que a docência é cheia de
desafios, encantos, problemas, risos. Já os textos relativos à natureza
descrevem algo que é muito superior a nós. Penso como o professor: a natureza é
a protagonista do universo. É uma perfeição. O vento, os galhos, a água, as
pedras, os animais, as flores. Faltam palavras, sobram sensações.
“Se assim está ordenado, por que reclamamos tanto
das chuvas, ventos e granizos? Não seriam os humanos, insanos intrusos nesse
ciclo maravilhoso que a natureza põe em movimento? Nas enchentes, não estariam
os rios fazendo uma limpeza geral em seus leitos para depurá-los de nosso mal
feito, renovando as águas fétidas lançadas em si pelos homens? Por que não
aceitar que a natureza continue ditando as regras, no jogo da vida? Por que nos
distanciamos tanto dessa ordem universal, criando um mundo paralelo,
antropocêntrico, predador de outros mundos? Teríamos perdido a nossa racionalidade
original que estava integrada aos mistérios cósmicos e com ele interagia
harmoniosamente?”. Este é um trecho do texto Arranjos da Natureza.
Cada história contada termina de forma satisfatória.
Algumas fazem constatações para a vida, às vezes, relacionando fatos passados
com o mundo atual. É possível absorver dicas e conselhos nas linhas do Tecendo
a Vida (aí está a maravilha da leitura).
Dirceu é natural de Tucunduva. Com 14 anos,
ingressou no Seminário do Sagrado Coração de Jesus, em Corupá, Santa Catarina. Mudou-se
para Santiago em 1983. Foi em 1984 que surgiu a oportunidade de atuar na então
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FAFIS).
Projeto editorial da Oliveira Casa Editorial, o
livro contém 107 páginas e pode ser adquirido no Me Gusta, em frente à pracinha
de brinquedos, em Santiago. O prefácio é do renomado professor Jorge Luiz da Cunha.
Conversei com o autor sobre o livro: “Fico muito feliz que você gostou da
leitura. Este retorno é importantíssimo para quem escreve”.
Colocar histórias no papel é uma forma de se
autoconhecer. É a chance de relembrar momentos, sentir saudade, pensar no
presente, lembrar das pessoas que por nós passaram. Algumas histórias, que
estavam em uma gaveta bem guardada da nossa cabeça, podem parar nas mãos de
quem nem nos conhece ou jamais imaginara termos vivido aquilo. Aí está uma
forma de se identificar com o outro, conectar-se, tecer a vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário